Saiba como vem atuando a nova geração do agro que faz parte do grupo de sucessores formado diretamente pelos pioneiros do cultivo em larga escala no Centro-Oeste
Kleverson Maggi Scheffer é um dos filhos de Eraí Maggi Scheffer, cofundador do Grupo Bom Futuro, um dos pioneiros da produção em escala no Centro-Oeste e figura pública da empresa. Concentrada em Mato Grosso, a Bom Futuro é hoje uma das maiores companhias do agro brasileiro que atua basicamente dentro da porteira, onde concentra a maior parte de seus negócios que, neste ano, têm uma receita estimada entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões.
“Temos uma terra de muitas oportunidades”, disse ele em entrevista exclusiva à Forbes. “O produtor aqui vai sempre reinvestir.” Kleverson é referência sobre um processo de sucessão que hoje faz parte de muitas companhias do agro que cresceu no Centro-Oeste e que já mudaram de ciclo de comando, ou estão a caminho.
Para ele, 43 anos, carregar um dos sobrenomes mais conhecidos do agro foi justamente olhar para além da porteira. A Bom Futuro planta cerca de 650 mil hectares de soja, milho e algodão, em 35 unidades de produção. Tem pecuária e abate cerca de 90 mil a 100 bovinos por safra, faz criação de peixes, produz sementes e sua infraestrutura abarca 22 armazéns com capacidade estática para cerca de 1,5 milhão de toneladas. Para tudo isso, precisa de energia elétrica, um dos bens mais preciosos para o crescimento de um país.
A geração de energia faz parte desse olhar para fora. Kleverson atua há duas décadas na empresa. Seu ingresso ocorreu no momento em que a Bom Futuro começava a estruturar uma de suas vertentes mais relevantes fora da produção agrícola: a geração de energia, especialmente por meio de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Na época, ele tinha apenas 23 anos e ainda cursava agronomia em Várzea Grande (MT), enquanto seus irmãos optaram pela formação em administração.
A decisão de sair da universidade antes de concluir a graduação foi motivada pela prática. “Meu pai falou que eu tinha que aprender na prática”, lembra. O ponto de partida foi uma fazenda arrendada na Chapada dos Guimarães, onde ele conciliava as idas à faculdade com o trabalho no campo. Acabou preferindo o dia a dia na fazenda, o que moldou sua visão de negócios.
Kleverson também morou nos Estados Unidos em 2006, levado pelo pai. Quando voltou, encontrou a empresa envolvida nos primeiros projetos de geração de energia. A sede desse braço do grupo foi instalada em Cuiabá, e ele logo assumiu papel ativo no desenvolvimento da área. “Essa parte virou sangue na veia e toco até hoje a geração de energia hidroelétrica, na Bom Futuro Energia”, afirma.
Além da energia, ele também comanda o setor de novos negócios do grupo, que inclui as áreas imobiliária, aeroportuária e de segurança. É dele, por exemplo, a condução do projeto do Terminal de Aviação Executiva Luzia Maggi Scheffer, em Cuiabá, e a gestão da empresa de segurança criada para atender demandas internas do grupo, especialmente as exigências regulatórias da Polícia Federal ligadas ao aeroporto.
A inauguração do terminal de passageiros, um investimento finalizado há pouco mais de um mês, de R$ 25 milhões, partiu de um plano seu.
O Grupo Bom Futuro, embora tenha na agricultura seu core business, estruturou essas frentes de negócio de forma separada da operação agrícola. Ele está em uma vertical menos diretamente ligada ao campo e mais aos ativos urbanos e estruturais. “Meu trabalho me deixou uma parte mais urbana e menos produtor”, diz ele. Apesar disso, segue produtor rural em um projeto particular, junto aos irmãos e outros familiares, em fazendas na Chapada dos Guimarães e em Campo Novo do Parecis, ativos fora do escopo do grupo.
O grupo tem 200 megawatts (MW) de potência instalada em pequenas centrais hidrelétricas. Além disso, possui capacidade solar equivalente a 10% desse volume, usada prioritariamente para abastecimento interno nas unidades produtivas. No total, são 12 hidrelétricas e 3 usinas fotovoltaicas e o investimento resultou em um outro negócio. Hoje, apenas 10% da energia gerada é consumida pelo próprio grupo. O restante vai para o mercado regulado, distribuído em contratos com a rede nacional.
Mas os desafios não são pequenos. As mudanças no regime hídrico têm imposto uma nova administração da água. Segundo Kleverson, as hidrelétricas atuais têm performado abaixo do esperado se comparadas às projeções feitas nas décadas passadas. “Nossos estudos mostram que o ciclo mudou. Os regimes de chuva não são mais os mesmos”, diz ele.
Isso obriga o grupo a superdimensionar estruturas como barragens para garantir segurança em eventos climáticos extremos. Mas há otimismo e ele enxerga uma reversão no horizonte, com a expectativa de que os próximos anos sejam de maior volume de chuvas, o que traria impacto positivo na geração.
Isso significa também apostar cada vez mais na preservação e sustentação ambiental. A Bom Futuro possui 380 mil hectares de áreas ambientais, incluindo Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente (APPs). Ele lembra que há 20 anos já acompanhava, ao lado do pai, discussões sobre desenvolvimento e infraestrutura para o estado. “O Mato Grosso sempre teve uma grande perspectiva. Hoje, temos uma pujança que precisa ser entendida como algo positivo”, diz Kleverson sobre investimentos, por exemplo, na agroindustrialização do estado, o que traria investimentos ainda mais diversificados ao setor.