A brasileira Nívia Estevam, moradora do Pará, relatou ao Fantástico que já havia procurado a direção da Escola Básica de Fonte Coberta, em Cinfães, Portugal, para denunciar episódios de bullying contra seu filho de dez anos — semanas antes de o menino ter as pontas de dois dedos amputadas em um incidente dentro da instituição, no último dia 10 de novembro.
Segundo Nívia, as agressões começaram logo após o início do ano letivo europeu, quando o menino, então com 9 anos, ingressou na escola. Ela contou que o filho relatava ataques frequentes, como puxões de cabelo, chutes e até comentários xenofóbicos sobre a forma como ele falava português.
Apesar das denúncias, a professora responsável minimizava a situação e chegou a afirmar ao garoto que ele estaria mentindo. A situação só mudou quando, no dia 5 de novembro, a criança voltou para casa com o pescoço marcado. Nívia enviou fotos à professora e cobrou providências. A resposta da docente foi que conversaria com os alunos no dia seguinte.
Cinco dias depois desse último contato, o menino sofreu o acidente que resultou na perda das pontas dos dedos indicador e médio da mão esquerda. A professora descreveu o caso à mãe como um “incidente sem intenção de machucar”, afirmando que as crianças “estavam brincando”.
O episódio ocorreu quando José Lucas descia para o lanche e foi seguido por duas crianças até o banheiro. De acordo com Nívia, os colegas fecharam a porta para assustá-lo, e sua mão ficou presa no vão, provocando o ferimento grave.
A escola ligou para a mãe por volta das 10h30, dizendo que havia ocorrido um acidente, mas garantiu que “não era nada sério”. Nívia chegou ao local em poucos minutos, mas só descobriu a gravidade quando um funcionário da ambulância entregou, dentro de uma luva, as pontas dos dedos do menino já no trajeto para o hospital. Os médicos informaram que não seria possível reimplantar.
Procurada, a administração da Escola Básica de Fonte Coberta afirmou, por meio de uma coordenadora, que não comentará o caso à imprensa e que as informações oficiais só serão divulgadas após a conclusão do inquérito interno.
A advogada de Nívia, Catarina Zuccaro, afirmou que houve falhas graves na atuação da instituição e que ingressará com pedido de indenização. Para ela, o caso deixou marcas emocionais que não poderão ser apagadas.
Segundo a mãe, mesmo ao tentar registrar ocorrência, enfrentou resistência da polícia. Ela afirma que o delegado interrompeu seu depoimento ao ouvir relatos de xenofobia e racismo, dizendo que “essas situações não existem em Portugal”.
Com medo de novos ataques, Nívia decidiu sair de Cinfães às pressas e atualmente está hospedada com os sogros enquanto busca outra escola com apoio adequado ao filho.
Nas redes sociais, a família tem recebido manifestações de apoio e pedidos de justiça.
O ministro da Educação de Portugal, Fernando Alexandre, afirmou que respeita a autonomia da escola na apuração, mas declarou que “nem tudo pode ser tratado como brincadeira”. Já o embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro, comunicou às autoridades portuguesas sua preocupação com as primeiras medidas adotadas pela escola e pela polícia, considerando a gravidade do ocorrido.