A política brasileira vive um paradoxo que há anos compromete a renovação da vida pública: a crescente inversão de valores. Em vez de reconhecer quem administra com responsabilidade, transparência e compromisso com o interesse coletivo, parte da sociedade — impulsionada por disputas políticas — insiste em atacar justamente aqueles que tentam fazer o certo.
É cada vez mais comum ver gestores bem-intencionados enfrentando acusações precipitadas, distorções de fatos e julgamentos antes mesmo de qualquer decisão definitiva. Enquanto isso, figuras já condenadas, investigadas ou obrigadas pelo Tribunal de Contas a devolver recursos públicos continuam sendo defendidas por determinados grupos como símbolos de honestidade e boa conduta.
Essa contradição se agrava sempre que a Justiça determina o afastamento de um agente público por indícios graves. Imediatamente, uma máquina de vitimismo digital entra em ação. Narrativas prontas são disseminadas para transformar quem cometeu irregularidades em supostas vítimas de perseguição. O objetivo é simples: descredibilizar fiscalizações, desviar o foco e atacar instituições.
Esse cenário tóxico afasta justamente aqueles que o país mais precisa: profissionais técnicos, éticos e preparados. Quem deseja trabalhar corretamente acaba sob constante vigilância e cobrança desproporcional; já quem erra é blindado por apoiadores que relativizam decisões judiciais e desacreditam órgãos de controle.
Com isso, a política se torna um ambiente hostil a novos perfis de liderança e segue dominada por estruturas antigas — muitas delas resistentes à transparência e à modernização. O resultado é o enfraquecimento da democracia, a perda de confiança da população e a manutenção de práticas que deveriam ter ficado no passado.
O Brasil tem avançado em diversas áreas, mas ainda enfrenta um grande desafio: romper com essa inversão de valores que celebra culpados e ataca quem tenta agir corretamente. Enquanto a sociedade aceitar que condenados sejam transformados em heróis convenientes, será difícil abrir espaço para uma nova geração de líderes comprometidos com o bem comum e com a integridade da vida pública.