Crise entre Planalto e Congresso se agrava após derrota no IOF; governo avalia retaliações e busca conciliação

A relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional atravessa seu momento mais delicado do ano. Após a derrota imposta ao governo na votação que derrubou o aumento do IOF, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, apoiou abertamente o uso das redes sociais como ferramenta de pressão contra o governo, num movimento suprapartidário que contou com ampla maioria no Legislativo.


Irritado com a articulação do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), aliado de Lira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou uma reunião com o comando da Câmara, que estava prevista para antes da votação. No mesmo dia, Lula recorreu às redes sociais e publicou uma história em quadrinhos defendendo o discurso de que o governo não pretende aumentar impostos, mas sim promover mudanças no sistema tributário.


Nos bastidores, a ala política do governo avalia recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular a decisão do Congresso, o que poderia aprofundar ainda mais o desgaste institucional. Já a equipe econômica defende um caminho diferente: retaliar os parlamentares com o corte de emendas, medida que atingiria diretamente as bases eleitorais dos deputados e senadores.


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu publicamente o impacto que tal decisão teria. “Se o presidente Lula decidir cortar despesas, vai pesar para todo mundo. Vai faltar recurso para saúde, para educação, para o Minha Casa, Minha Vida. Não sei se o Congresso quer isso”, afirmou o ministro.


Diante do aumento da turbulência, vozes governistas já começam a defender o recuo e pregam a busca por um entendimento. “O governo está aberto à negociação e a gente espera que tanto a Câmara quanto o Senado apresentem suas propostas”, declarou um interlocutor próximo ao presidente.


Enquanto isso, o desafio fiscal persiste. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, o governo precisa de pelo menos R$ 12 bilhões para fechar o orçamento. A Medida Provisória que prevê aumento da taxação sobre investimentos e apostas esportivas — os chamados “bets” — é vista como uma alternativa, mas sua aprovação no Congresso é incerta e os efeitos práticos devem demorar.


Em nota conjunta, dez confederações do setor produtivo, incluindo as da indústria e da agricultura, parabenizaram os parlamentares pela derrubada do aumento do IOF e se colocaram à disposição para discutir uma agenda fiscal “conectada com os verdadeiros desafios da nossa economia”.


A crise política, portanto, permanece em aberto, com o governo tentando equilibrar a necessidade de ajuste fiscal com a pressão política do Congresso e dos setores econômicos.

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Redação GNMT