Especialistas apontam que Tarcísio terá caminho estreito: manter fidelidade a Bolsonaro sem perder eleitorado de centro
O Brasil se aproxima de mais um ciclo eleitoral nacional com um dilema recorrente: campanhas pautadas por rejeições, polarização e disputas institucionais, mas sem a apresentação de projetos concretos de desenvolvimento para o país. Analistas ouvidos em debates recentes afirmam que a eleição de 2026 pode repetir o padrão dos últimos pleitos, em que candidatos chegaram ao Planalto com base em narrativas de oposição, mas sem planos estruturados de governo.
De um lado, a esquerda enfrenta o desafio de renovar sua agenda, apresentando propostas que dialoguem com uma economia globalizada, digitalizada e marcada por mudanças no mundo do trabalho. Do outro, a direita bolsonarista se reinventou em termos de narrativa política, mas segue distante do debate sobre produtividade, redistribuição de renda e reformas estruturais.
O dilema de Tarcísio
Entre os nomes cogitados, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, surge como principal aposta do bolsonarismo. Sua candidatura, no entanto, enfrenta um “caminho estreito”: manter a lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja rejeição é elevada, sem perder espaço junto ao eleitorado de centro.
Analistas lembram que romper com Bolsonaro significaria isolamento político, já que todos os que se elegeram com apoio do ex-presidente e depois se afastaram acabaram no limbo. Por outro lado, a associação direta ao bolsonarismo pode dificultar a conquista de novos segmentos.
Supremo e sanções no centro do debate
Outro ponto é que, em vez de discutir pautas estruturais — como eficiência do Estado, crescimento sustentável e reformas econômicas —, a política nacional segue aprisionada a disputas institucionais. Questões como o impeachment de ministros do Supremo, anistias e até sanções internacionais tendem a ocupar espaço central no debate eleitoral.
Especialistas classificam esse cenário como um retrocesso democrático, já que o Brasil, prestes a completar quatro décadas de Constituição, ainda se vê debatendo as próprias “regras do jogo”.
Um país sem projeto
Desde 2014, o Brasil não apresenta candidaturas presidenciais com projetos nacionais consistentes. O padrão tem sido eleições decididas pelo voto de rejeição ao adversário, sem que se estabeleça um plano de transformação.
“Precisamos discutir o futuro da economia, o papel do Estado, a produtividade e o desenvolvimento sustentável. Mas o que temos visto é a política aprisionada ao passado”, resumem analistas.